Há alguns anos, as redes sociais vêm anunciando o que muitos já suspeitavam: novas formas de fazer literatura e chegar aos leitores de forma mais democrática. O movimento implantado por redes como Facebook, Twitter ou, principalmente, Instagram resultou em um novo design, o "Instapoet", de cuja tribo o poeta canadense Rupee Kaur é a rainha-mãe depois de transformar suas publicações em dois livros best-sellers. Uma realidade que não só confirma a renovação da literatura, mas também o retorno da poesia como o gênero "mainstream" que clamava há anos.
Rupi Kaur (e a menstruação mais famosa do milênio)
Nascida em 5 de outubro de 1992, menina de família de religião sikh, no estado de Punjab, na Índia, recebeu os nomes de Rupi (deusa da beleza) e Kaur (sempre pura). Dois nomes que pareciam anunciar a libertação que esta menina, que emigrou com os pais para o Canadá aos 4 anos, prometeu a uma longa geração de condenadas e uma poesia vista no século passado como um gênero menos comercial que outras como o romance.
Desde pequena, Rupi Kaur escrevia e desenhava, concebendo as duas artes como um "todo". Na escola ela era a garota estranha, aquela que preferia passar o tempo entre escritos e fotos que buscavam mudar certas perspectivas e desarmar alguns tabus universais. Em 2009, Kaur começou a recitar no Punjab Community Health Centre em Malton, Ontário, e em 2013 a escrever poemas na rede social Tumblr. A explosão viria quando a jovem criou uma conta no Instagram em 2014 e depois tudo mudou.
Os poemas de Rupi Kaur eles se referem a tópicos como feminismo, violência, imigração ou amor de uma forma nunca vista antes. Denotando uma sensibilidade singular que usa elementos universais para tocar um acorde e simplificar conceitos que têm causado alguns dos grandes conflitos da história, Kaur passou a publicar parte de sua poesia no Instagram.
No entanto, a fama viria para ele com uma fotografia, uma na qual a jovem aparecia deitada de costas na cama, deixando um rastro de sangue normal.
A fotografia, que faz parte do material de um ensaio fotográfico sobre preconceitos sobre a menstruação, foi censurada pelo Instagram, sendo devolvida ao autor logo em seguida. Até o momento, o instantâneo publicado em 2015 tem mais de 101 mil curtidas, sendo o ponto de partida para uma coleção de poemas que aos poucos se desvendou na rede social até virar dois livros.
Rupi Kaur: emocional como água
Pouco antes da publicação de sua famosa fotografia, Rupi Kaur já havia publicado sua coleção de poemas em 2014 Leite e mel via Amazon. A própria autora desenhou também as capas e desenhos que acompanham cada um dos poemas do livro, divididos em quatro partes: "a dor", "o amor", "a quebra" e "a cura". Feminismo, estupro ou humilhação são os principais temas de um livro cujo sucesso chamou a atenção de Publicação Andrews McMeel, que publicou uma segunda edição no final de 2015. O resultado foi meio milhão de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos e em # 1 no The New York Times.
Leite e mel seriam publicados logo depois na Espanha, na Espanha, sob o título Outras maneiras de usar a boca pela Espanha.
O sucesso do livro viria em um segundo, chamado O sol e suas flores, publicado em outubro de 2017 e já se tornou um dos favoritos deste autor. Precedida por uma meteórica campanha publicitária na conta do próprio autor no Instagram, a coleção de poemas trata de temas como imigração ou guerra, além dos temas emblemáticos da artista, que dividiu sua obra em cinco capítulos: «murcha», «queda», "enraizando", "nascendo" e "florescendo".
Emocional como a água, conforme definido em um dos poemas de The Sun & her Flowers, Rupi Kaur mudou as regras do jogo ao transformar uma rede social tão visual quanto o Instagram na vitrine perfeita para dar vida a uma poesia que ele não era passando por seus melhores momentos. Influenciado por autores como Alice Walker ou o poeta libanês Kahlil Gibran, Kaur também se inspira em sua cultura sikh, principalmente em suas leituras sagradas, para readaptar velhas histórias exóticas que tratam de temas universais sem esquecer aquele ponto mágico e trágico. Escrever é a arma de Kaur, sua maneira de canalizar episódios passados e dar exemplo para o resto, como ela sugeriu durante uma entrevista para o jornal El Mundo:
«Quando comecei precisava me expressar, sair da dor que sentia por dentro, porque não era uma garota muito popular na escola; Eu era introvertido e eles costumavam mexer comigo. E escrever me ajudou. Tem sido uma ferramenta que me ajudou a curar feridas, mesmo que doesse. Para mim, escrever tem um grande poder catártico e libertador. Isso me ajudou a crescer. Aprendi, entre outras coisas, que a vida é uma dádiva, sim. Ela pode tirar tudo de você e ainda assim você estará disposto a amá-la.»
A paixão de Kaur se tornou uma inspiração para novos autores e uma influência no mundo das letras. Sua turnê, que cobre o Canadá e os Estados Unidos e este mês vai pousar na Feira do Livro da cidade de Jaipur como a primeira parada de sua O passeio indiano, confirma o impacto desta jovem nas redes sociais, na poesia e, sobretudo, num feminismo em que algumas das grandes autoras deste milénio se aprofundaram ao longo destes anos.
Esperamos que a chegada de Rupi Kaur não sirva apenas para reduzir ao essencial alguns dos grandes males do nosso tempo, mas também para devolver a poesia ao lugar que merece e ver nas redes sociais a forma perfeita de expor o novo mundo ( e necessárias) formas de expressão.
Você leu alguma coisa de Rupi Kaur?